“E ela entra em seu quarto, senta em frente ao espelho, se olha e começa a se pentear.
Tem cabelos longos, é bonita, vaidosa…
No momento em que se penteia, tenta entender em qual momento da sua vida tudo mudou tanto. Quando aconteceram essas mudanças tão grandes?
Ela não é mais a mulher de seis meses atrás, não é mais a menina do ano passado.
Quando foi que o que ela possuía deixou de interessá-la? Não a satisfazia mais? Em qual momento o novo se tornou tão mais atraente?
O que antes a satisfazia, se tornou chato, insuficiente. O novo se tornou irresistível, ideal.
Talvez o momento tenha feito com que ela enxergasse o novo assim, talvez o momento tenha feito com que tudo se intensificasse.
E ela passou a viver o que há anos não vivia, voltou a ter prazer nas coisas, a ter prazer na vida.
Hoje ela olha para trás e percebe o quanto tudo foi irreal, o quanto tudo não passou de uma ilusão. E recordando o passado, a raiva que antes sentia dá lugar à compreensão.
O mundo cor de rosa que ela vivia, não existia, e ela aprendeu isso… Da formais mais dura, mais difícil, mas aprendeu.
Chorou, sofreu. Doeu, doeu muito, mas ela começa a tirar lições dos erros e também dos acertos. E percebe que está crescendo, amadurecendo, se fortificando.
Orgulha-se ao lembrar que suas lágrimas secaram sozinhas, que ela foi forte o suficiente para enfrentar as dificuldades.
Ela não perdeu o senso de humor, o jeito meigo, o sorriso aberto. Isso ela vai manter pra sempre, porque é o que a torna especial.
Mas tem ganhado experiência, sabedoria, força, determinação.
Agora, nem tudo a faz chorar, nem tudo a decepciona. Ela começa a saber o que quer, do que gosta, o que a satisfaz.
Ela descobre que o antigo realmente não era o que ela queria, e que o novo que ela tanto desejou, também não era o que a faria feliz.
Começou a distinguir o que é bom, o que é ruim, o que ela gosta, o que ela não gosta… está se conhecendo, se descobrindo.
E pela primeira vez, em muito tempo, ela se olha no espelho e se vê de verdade. Enxerga a mulher que ela realmente é, e tudo o que ela merece.
Então termina de pentear seus cabelos longos, sorri seu sorriso largo para si mesma, sente orgulho de ter enfrentado a mudança e se levanta… Satisfeita com o que a mudança lhe proporcionou, satisfeita com a mulher que ela está se tornando”…
SPJ, 2012