Archive for ‘Devaneios e loucuras’

May 3, 2012

Não quero mais nada

“Eu não quero respostas. Não mais.

Não quero que você volte atrás, nem quero que diga que se arrependa. Não tem nada mais para ser dito e nem discutido.

Você pediu por isso, insistiu por isso, implorou por isso. Pra que eu desistisse, pra que eu fosse embora.

No seu lugar, eu também não teria insistido muito. Mas no meu lugar, qualquer um teria desistido.

Eu não, eu fiquei do seu lado. Eu me importei quando ninguém se importava. Eu entendi a sua tristeza, eu compreendi o seu silêncio. Eu entendi tudo. Eu me coloquei em segundo lugar, só pra deixar você em primeiro.

Eu passei a amar menos as pessoas, pra poder te amar mais.

E em todo lugar que eu ia, eu queria estar com você. Eu deixei todas as pessoas do mundo por você. Porque eu achava que você valia mais do que todas as pessoas do mundo juntas. Eu achava que você era tudo.

Mas olha só agora, olhe hoje por exemplo.

Eu não quero nem respostas. Não quero mais nada, nem exijo mais nada. De todas as coisas do mundo, eu só queria que você tivesse me entendido.

Queria que tivesse ficado, sabe? Queria que você não tivesse desistido, e que não tivesse me obrigado a desistir também.

Eu queria muita coisa. Eu quis muita coisa. Hoje não, hoje eu não quero nada. Não quero mais”.

Robin and Stubb.

April 30, 2012

As time goes by…

“Dizem que o tempo cura tudo. É mentira. O tempo não cura nada. Tudo permanece sempre do jeito que sempre foi. O que o tempo faz é ensinar meios de lidarmos com as coisas.

Por isso o que parecia o fim do mundo não mais o será dali alguns dias, meses, ou talvez anos. Apenas porque descobrimos um jeito de não pensar nisso o tempo todo.

E quando aprendemos a fazer isso, temos a chance de pensar nas coisas de outro modo. Já controlamos melhor o jorro de emoções que certos assuntos nos causam e conseguimos olhar as coisas mais ou menos como elas são de fato.

Aí ficamos pensando se aquela loucura toda de fato persiste em nós, ou se o que nos causa insanidade é uma lembrança, uma projeção, uma idealização…

Ficamos calculando o quanto de nossa ansiedade tem origem de dentro pra fora e não de fora pra dentro.

Se o que terminou sem fim de fato terminou ou se era mesmo pra terminar. Se for para continuar ad aeternum, que seja então.

Mas embora as cicatrizes permaneçam, o corte já não sangra.

E ainda que as conclusões não sejam nada definitivas, ao menos temos a oportunidade de não nos desgastarmos demais tentando solucionar o que não tem solução.

Tem coisas que eu ainda não entendo e que acho que nunca vou entender. Mas por hora, não preciso ficar tentando. Pode ser que a luz surja na minha frente quando eu menos esperar.

Só sei que o tempo não cura nada. Nada mesmo”.

RDF, 2012

April 30, 2012

Memories and feelings…

Nhá Benta. Pião de luzinhas. Lost. O som do carro. Victoria’s Secret de morango. Lingerie vermelha no natal. Foo Fighters. MSN. Piadas bobas. Piadas sujas. Piadas inteligentes. Rafinha Bastos. Kinder ovo. Saudade. Cavalera.

O metro de SP. Calvin Klein. Rolex de esmeralda. Abraço curativo. Difícil ficar longe. Web cam. O cheiro do carro novo. Whisky. Learn to fly. Beijo roubado. Sonhos. MBA. Tijuana. Final Feliz. Distância. HIMYM.

Pular de para-quedas. Gtalk. RH. Notebook. Jogar conversa fora. Nothing else matters. Carona. Ler pensamento pelo olhar. Madrugada. Bitter sweet. Alegria inexplicável. Riso fácil. Almoço. Abraço apertado. Realismo. A raposa do Pequeno Príncipe.

Cumplicidade. Solidariedade. Ausência dolorosa. Praia. Applebees. Happy hour. Perder um braço ou uma perna? Cheiro. Toque eletrizante. Clandestinidade. Desejo. Amado. Morumbi shopping. Confiança.

Cuidado. Você me faz feliz. Esquecer o mundo. Escolha. Despedida. Abandono. Omissão. Sinceridade. Finanças. Razão. Ray Ban. DVD do Metallica. Emoção. Pertença. Ódio. Querer bem. Bom pra todos. Ross & Rachel. Terça insana. Freakonomics.

Coisas simples. Coisas complicadas. Tudo é recordação. Tudo é sentimento. Ou será apenas loucura?

April 24, 2012

Perfeição demais… não cheira bem.

Sabe aquele homem super comportado?

Que nunca olha pra nenhuma outra mulher?

Que não tem nenhuma amiga que você não conheça e confie?

Que lembra de todos os “aniversários” de vocês e ainda te enche de mimos e presentes no seu aniversário, no dia dos namorados, no natal etc?

Que nunca troca sua companhia por nada, nem por um happy hour ou futebol com os amigos?

Que sempre cede aos seus encantos e acaba fazendo o que você quer?

Que diz que a única coisa que ele quer na vida é fazer você feliz, todos os dias?

Pois é meu bem. Ele tem OUTRA.

April 19, 2012

O seguro? Ou o novo?

Daí você caminhava pela mesma estrada de sempre, com suas verdades absolutas e suas certezas consistentes.

Aquele era o caminho certo. Você já havia passado por lá diversas vezes. Era o único caminho. Todos os sinais o indicavam, não havia dúvida.

E, quando você menos esperava, surgiu à sua frente uma ramificação. Ela não aparecia nos mapas, não constava nas indicações, não fazia parte dos planos. Não estava lá antes. Ninguém te falou que isso poderia acontecer!

Você ficou confuso, não entendeu o por que, não entendeu como, não sabia o que fazer. Tentou enxergar o mais longe possível, sem, contudo desviar do seu caminho de sempre.

E, apesar da vontade de se aventurar, você sentiu medo, quis voltar pro caminho conhecido, quis se sentir seguro novamente.

‘Por que eu iria por uma caminho que não conheço se eu já sei que o outro me levará aonde eu quero chegar?, vc se perguntou.

E por dias seguidos você passou por aquele desvio, tentando ignorá-lo, não pensar mais nele, certo de que havia feito a escolha correta.

Estava feliz por ter se mantido firme nas suas crenças e convicções. Por ter sido leal à estrada que sempre lhe deu segurança para chegar onde precisava.

Até que, da mesma forma mágica e inexplicável que o novo caminho surgiu, ele desapareceu. Sumiu, na frente dos seus olhos perplexos.

Você então se deu conta, de que nunca saberia o que havia naquela estrada! E percebeu que essa dúvida iria atormentá-lo para sempre.

Não havia como voltar atrás, você fatalmente passaria o resto da vida imaginando o que havia lá…

O que você não se deu conta, é que aquela estranha bifurcação que surgiu no seu caminho, era, na verdade uma oportunidade. Era o Universo a lhe dizer que você tinha uma escolha. O destino lhe concedendo a possibilidade de mudar.

Era a vida te mostrando que você não precisava seguir pelo seguro, pelo óbvio, pelo usual. Que você poderia trilhar por um caminho de mistérios, surpresas e possibilidades.

Ah, as possibilidades!!! Você poderia ter visto coisas extraordinárias, vivido sensações novas e maravilhosas e, quem sabe conhecido uma felicidade nunca antes experimentada por você.

E, desde então, todas as vezes em que você se depara com uma estrada nova, um desvio, um caminho desconhecido, se lembra daquela pequena e estranha bifurcação que se mostrou para você. E se lamenta por não poder voltar atrás.

O tempo é inexorável, a vida não para e, agora, é tarde.

April 13, 2012

Viva

Vá. Viva. Supere seus desafios. Conquiste suas vitórias.

Você é livre.

Porque o amor não acorrenta. O amor liberta.

E deixar o outro ser feliz é muito mais belo e difícil que fazer feliz a si próprio.

Esquecer é o caminho. Deixar de se importar é a única opção.

Abandone o passado. Siga seu caminho.

Um dia você entenderá o tamanho do sacrifício feito. Chegará a sua vez.

E nesse dia, quem sabe, você aprenderá a amar também.

April 6, 2012

Decantamento

ImagePaixão é química. Aquele ardor no coração que vem da insegurança, da necessidade infinita de saber que o outro sente o mesmo, da necessidade de ser correspondida. E com o estabelecimento da relação tudo se acalma. Porém são esses momentos que ficam e preservá-los é o que fará com que a relação se renove.

Dois pontos cruciais se destacam nesta frase, “com o estabelecimento da relação tudo se acalma” e “preservá-los é o que fará com que a relação se renove”.

O que observamos corriqueiramente é que em relações longas há uma forte tendência das coisas irem amornando até que esfriam completamente. É o tradicional “virar irmão”. Aquela paixão louca e desenfreada do começo vai esfriando, esfriando até se tornar uma mesmice acomodada de dar pena.

Por que é tão difícil preservar a paixão e renovar o relacionamento?

Não é tão simples assim, mas não é tão complicado também. Com o passar do tempo, com a convivência constante, em especial nos casos em que o casal mora junto, vem a intimidade. E esta intimidade cresce a cada dia, fazendo com que a confiança entre os dois cresça, assim como a segurança em relação ao outro.

Aí você começa a se sentir mais tranqüila em expor suas fragilidades e seus momentos, digamos assim, menos glamourosos.

Sem o menor pudor você fica no meio da sala com a cabeça embrulhada em papel alumínio enquanto a tintura age, creme no rosto e com os dedos dos pés separados com algodão enquanto pinta as unhas.

Ele, sem a menor cerimônia, passa por você de camiseta velha e aquela cueca descosturada na lateral, te olha e pergunta, “amor, vou pegar bolacha, você quer”. Você responde com a tampa da acetona na boca “só uma”.

Nem você se importa com a cueca descosturada dele e nem ele com você parecendo um monstro do pântano.

E é justamente isso que gera a tal acomodação. Cada vez mais um conhece os segredos do outro, o mistério acaba e a segurança resulta em acomodação. Um sente que não precisa mais encantar e seduzir o outro. Ele já está ali mesmo.

E como ele está ali, você não precisa aproveitar cada segundo da presença dele, como nos tempos de namoro em que cada instante era precioso. Dá para esperar acabar o capítulo da novela, ler esses e-mails, lavar a loucinha que ficou, recolher a roupa do varal… Se bem que agora deu um sono… Amanhã eu fico mais com ele.

Aí ele está lá na internet, pegou um livro… parece tão compenetrado vendo esse filme… foi consertar o chuveiro… Ah… deixa pra amanhã…

E assim vai. A rotina, a acomodação, o excesso de intimidade vão minando o encanto do casamento até que os dois viram irmãos. Triste, mas real.

Manter a chama acesa é possível, mas não é fácil. Demanda predisposição, dedicação e planejamento, por mais contraditório que possa parecer planejar para recuperar a espontaneidade. É preciso criar novidades, bagunçar as rotinas, inventar mistérios e não se esquecer que vocês são homem e mulher.

O amor está lá, só que decantado no fundo do seu coraçãozinho. Para que ele volte a preencher sua totalidade, precisa ser chacoalhado.

*Colaboração Ricardo Flausino, autor do blog Crônicas do absurdo.

April 4, 2012

Geração Auto-Ajuda

Toda mulher do século XXI já viu, ouviu falar, leu, folheou, ou pelo menos teve curiosidade de xeretar um desses livros de auto-ajuda que prometem auxílio para entender e até controlar a mente masculina. “Porque os Homens se Casam Com as Manipuladoras”, “Mulheres Inteligentes, Relações Saudáveis”, “Por Que os Homens Amam as Mulheres Poderosas?”, “Porque os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor”, são apenas alguns dos títulos constantes das listas de mais vendidos em nosso país.

Minha incansável, insaciável e excêntrica curiosidade fez com que eu me dispusesse a ler alguns deles. Por que? Porque é irresistível saber o que os “experts” em comportamento têm a dizer a uma moçoila que pretende convencer um jovem mancebo a se casar, seja encarnando a “persona da manipuladora”, ou a “mulher poderosa”, ludibriando aqueles que passam a vida sendo orientados a não caírem nessas armadilhas. É, certamente, um jogo de poder e sedução.

Eu compreendo que toda mulher que já teve seus percalços pela tortuosa estrada dos relacionamentos, quer sempre saber o que fez de errado e o que fazer na próxima tentativa para que o relacionamento dê certo. Mas eu, particularmente, sempre acreditei que casamentos aconteciam a partir de uma grande história de amor, iniciada por uma paixão avassaladora.

Você conhece alguém e o imponderável diz que essa pessoa é especial. Estar ao lado dele é fácil, descomplicado, sem necessidade de explicações ou justificativas. Simplesmente é. E a presença dessa pessoa passa a ser essencial, tal qual o ar que respiramos, leva todas as dores do mundo embora. Inebriante como um cálice proibido. E, mesmo sabendo que a paixão é química, que não dura muito tempo, são esses os momentos que guardamos na memória e preservá-los é o que fará com que a relação perdure e se renove.

Então qual a razão de tentar racionalizar tudo isso? Colocar o imponderável em manuais? Por que tentar controlar um momento onde a falta de controle é o que o torna especial?

Se você quer alguém que atenda a todos os seus chamados, que obedeça seus comandos e a siga para todo lado, é melhor comprar um cachorrinho adestrado, não? E o pior é que todas nós sabemos que em pouco tempo, esta mesma moça estará reclamando que o homem dela é frouxo, que se não for ela para decidir tudo ele não faz nada, que ele não tem opinião, que é ela que tem que resolver tudo e blah blah blah…

Eu penso que ao meu lado, quero ter um homem seguro, inteligente, que saiba quando está sendo manipulado e, melhor ainda, que saiba que uma mulher manipuladora não o respeita. Nem como homem, nem como indivíduo. Ao meu lado, quero um homem que esteja comigo porque me escolheu, não porque se deixou enredar em uma teia maliciosa.

Se uma mulher segue à risca instruções de auto-ajuda para conseguir um homem moldado a seus desejos, ela merece um idiota completo, que despeje toda a carga de seus relacionamentos anteriores sobre ela. E se um homem se deixa levar e se submete a tudo isso, ele merece mesmo ter a seu lado uma insuportável, que controla cada um de seus passos e que vai tentar convencê-lo, dia após dia, de que ele, de fato, não a merece e que só está com ela por um puro golpe da sorte.

Quem acha que vai conseguir um relacionamento através de dicas de auto-ajuda, pode aproveitar a passada na livraria para comprar um livrinho que as ensine como se auto-convencer de que são felizes.

Porque o amor é o reino do imponderável e sobre ele, a lógica não tem qualquer influência.

*Colaboração Ricardo Flausino, autor do blog Crônicas do absurdo.

March 29, 2012

A escolha

Tinha a sua frente dois corações.

Sabia que tinha que fazer uma escolha.

Sabia que só poderia fazer um deles feliz e que isso significava destruir o outro.

Não havia meio termo, não havia meia escolha.

Então escolheu.

E com sua escolha de fazer aquele coração feliz.

Destruiu o meu.

March 21, 2012

Descrita por terceiros…

“Uma amiga me disse: “Quem briga por tudo e quer medir poder com todo mundo, na verdade está tentando provar que não é um bosta, tá brigando consigo mesmo”.

Pura verdade, quando minha auto-estima está em suas piores fases, é aí que a coisa pega: fico com mania de perseguição, acho que tá todo mundo querendo foder comigo, que existe um complô universal contra a minha frágil pessoa. Meu ataque nada mais é do que a defesa amedrontada de uma menina boba.

Mas a verdade é que eu odeio o equilíbrio. Porra, se eu tô puta, eu tô puta! Se eu tô com ciúme, não vou sorrir amarelo e mostrar controle porque preciso parecer forte e bem resolvida. Se o filho da puta que senta do meu lado é um filho da puta, eu não vou fazer política da boa vizinhança, eu vou mais é berrar e libertar essa verdade de dentro do meu fígado: você é um grandessíssimo filho de uma puta! Se a vaca da catraca do teatro me tratou mal, eu vou mais é falar mesmo que ela é uma horrorosa que não vê pica há anos, ou melhor, que a última pica que viu foi do padrasto que a estuprou!

O sangue ferve aqui dentro, e eu não tô a fim de transformá-lo num falso líquido rosa que um dia vai me dar um câncer. Eu não tô a fim de contar até 100, eu quero espancar a porta do elevador se ele demorar mais dois segundos, quero morder o puto do meu namorado que apenas sorri seguro enquanto eu me desfaço em desesperos porque amar dói pra caralho, quero colocar TODAS as pessoas do meu trabalho que falam “Fala, floRRRR!” ou “Precisamos disso ASAP” numa câmera de gás peristáltico.

Eu sou antipática mesmo, o mundo tá cheio de gente brega e limitada e é um direito meu não querer olhar na cara delas, não tô fazendo mal a ninguém, só tô fazendo bem a mim. Minha terapeuta fala que eu preciso descobrir as outras Tatis: a Tati amiga, a Tati simpática, a Tati meiga, a Tati que respira, a Tati que pensa, a Tati que não caga em tudo porque deixou a imbecil da Tati de cinco anos tomar as rédeas da situação.

Ela tem razão, mas é tão difícil ver todos vocês acordando de manhã sem nada na alma, é tão difícil ver todos os casais que só sobrevivem na cola de outros casais que só sobrevivem na cola de outros casais, é praticamente impossível aceitar que as contas do final do mês valham a minha bunda sentada mais de 8 horas por dia pensando o quanto eu odeio essa gente que se acha “super” mas não passa de vendedor de sabonete ambulante.

É tão difícil ser mocinha maquiada em vestido novo e sapato bico fino quando tudo o que eu queria era rasgar todos os enfeites e cagar de quatro no meio da pista enquanto as tias chifrudas bebem para esquecer as dúvidas ao som de “Love is in the air”.

Parem de sorrir automaticamente para tudo, humanos filhos da puta, admitam que vocês não fazem a menor idéia do que fazem aqui. Admitam a dor de estar feio, e admitam que estar bonito não adianta porra nenhuma.

Eu já me senti um lixo de pijama com remela nos olhos, mas nunca foi um lixo maior do que me senti gastando meu dinheiro numa bosta de salão de beleza enquanto crianças são jogadas em latas de lixo porque a total miséria transforma qualquer filho de Deus em algo abaixo do animal.

Mas eu não faço nada, eu continuo querendo usar uma merda de roupinha da moda numa merda de festinha da moda no meio de um monte de merdas que se parecem comigo. Eu quero feder tanto quanto eles para ser bem aceita porque, quando você faz parte de um grupo, a dor se equilibra porque se nivela.

E eu continua perdida, sozinha, achando tudo falso e banal. Acordando com ressaca de vida medíocre todos os dias da minha vida.

Grande merda de vida, você muda a estação do rádio para não reparar que a menina de dez anos parada ao lado do seu carro, já tem malícia, mas não tem sapatos. Você dá mais um gole no frisante para não reparar que a moça da mesa ao lado gostou do seu namorado, e ele, como qualquer imperfeito ser humano normal, gostou dela ter gostado.

Você disfarça, a vida toda você disfarça. Para não parecer fraco, para não parecer louco, para não aparecer demais e poder ser alvo de crítica, para ter com quem comer pizza no domingo, para ter com quem trepar na sexta à noite, para ter quem te pague a roupa nova e te faça sentir um bosta e para quem te pede socorro, você disfarça cegueira.

Você passa a vida cego para poder viver. Porque enxergar tudo de verdade dói demais e enlouquece, e louco acaba sozinho. Vão querer te encarcerar numa sala escura e vazia, ninguém quer ter um conhecido maluco que lembra você o tempo todo da angústia da verdade e de ter nascido. Você passa a vida cego, mentindo, fingindo, teatralizando o personagem que sempre vence, que sempre controla, que sempre se resguarda e nunca abre a portinha da alma para o mundo. Só que a sua portinha um dia vira pó, e você morre sem nunca ter vivido, e você deixa de existir sem nunca ter sido notado. Você é mais uma cara produzida na foto de mais uma festa produzida, é um coadjuvante feliz dessa palhaçada de teatro que é a vida.

Você aceitou tudo, você trocou as incertezas da sua alma pelas incertezas da moça da novela, porque ver os problemas em outros seres irreais é muito mais fácil e leve, além do que, novela dá sono e você não morre de insônia antes de dormir (porque antes de dormir é a hora perfeita para sentir o soco no estômago).

Você aceita a vida, porque é o que a gente acaba fazendo para não se matar ou não matar todos os imbecis que escutam você reclamar horas sem fim das incertezas do mundo e respondem sem maiores profundidades: relaaaaaaaaaaaaaxa!

Eu não vou fumar, eu não vou cheirar, eu não vou beber, eu não vou engolir, eu não vou fugir de querer me encontrar, de saber que merda é essa que me entristece tanto, de achar um sentido para eu não ser parte desse rebanho podre que se auto-protege e não sabe nem ao certo do quê. Eu não vou relaxaaaaaaaaaaaaaaaaaar.

A única verdade que me cala um pouco e, vez ou outra, me transforma em alguém estupidamente normal é que virar um louco selvagem que fala o que pensa, sem amigos e sem namorados, só é legal se você tiver alguém pra contar o quanto você é foda no final do dia”. Tati Bernardi